Love In The Afternoon, 20 anos sem Renato Russo

Primeira música? Vento no Litoral.
Primeiro disco? V (cinco).
Apesar da coincidência, não foram os vês que me levaram a admirar a obra da Legião e consequentemente a poesia do Renato. Tudo foi questão de tempo, tempo para digerir a tragédia de "Pais e Filhos", a raiva de "Que país é esse", e a poesia épica que desbrava a história do anti-herói João de Santo Cristo em "Faroeste Caboclo". Cada disco uma reação emblemática, numa espécie de estado de inércia. Eu só ouvia, ou sentia.
Não importava a língua, inglês, português ou italiano, muito menos quem compunha as canções, aquele era momento de se desprender e libertar a mente ao som da voz de Renato Russo. Mas nem tudo eram flores já que eu não suportava minha fragilidade intelectual quando o assunto era entender a relação título/conteúdo das canções, pois como pode uma música de nome Daniel Na Cova Dos Leões começar com "Aquele gosto amargo do teu corpo/Ficou na minha boca por mais tempo/De amargo, então salgado ficou doce/Assim que o teu cheiro forte e lento"?
O tempo passou e como citado no começo do texto, tudo foi digerido de forma instigante, mas extremamente agradável, vale ressaltar. Assisti e li todas suas entrevistas na internet e aprendi a tocar e cantar quase todas suas músicas - apesar de não chegar no tom de "Vento no Litoral", justamente a música que me chamou para o universo da melancolia e inquietação do Renato.
A partir desse momento a obra da Legião Urbana junto com a solo do Renato virou parte da minha rotina, transformou meu cotidiano e com certeza mudou a forma com que eu enxergava a música.

20 anos após Renato deixar a superfície terrestre rumo ao anel superior do qual supostamente ele acreditava, estamos aqui, relembrando e lamentando algo que na visão mística da história, era inevitável. Hoje com 17 anos e com o afeto que transcende o tempo da minha existência, tento apenas continuar sentindo todo o escalonamento poético dos seus discos e redescobrindo as novas história de uma perda que nós sentimos desde 1996.

20 anos sem o nosso poeta.