Quanto vale sua coxinha?

Era o pré debate. O assunto? Não vem ao caso - não quero desfocar do ponto. Quem tinha dinheiro para a coxinha era o único ponto naquele momento. Quanto precisava? Dois reias por boca e já estava feito. E no fim foi feito.
Todos sentados desorganizadamente, ainda com leves conexões a base de um olhar forte e de esticões de pescoço. E o pote com as coxinhas foi passando de mão em mão. Os primeiros pegavam uma e saiam, uns passavam sem ousar ver o que havia para comer - talvez fossem alérgicos -, outros asseguravam três ou quatro, como se os afligisse o medo de não vê-las novamente.
E assim ela resistiu a tortuosa rota e completou sua primeira volta no curso. Os primeiros continuaram pegando só o que o bom senso havia estabelecido, alguns mais a frente vendo que andaram pegando mais do que "deviam" - desculpe-me pelo frágil moralismo -, também fizeram o mesmo. Os alérgicos continuaram alérgicos e os brocadores continuaram com a mão cheia, mesmo se ainda estivessem com alguns - talvez fossem para a viagem.
E quanto a mim? Eu peguei um, depois mais um e resisti. Não que eu quisesse praticar moralismo desmoralizando a lógica da roda, mas é que deu muita vontade de encher a boca de coxinha - estavam quentes e levemente crocantes, ora!
Nem todos pagaram pelas coxinhas, nem todos comeram. Ninguém dividiu igualitariamente, ou de acordo com quem pagou ou quanto pagou. Ninguém estimou o quanto precisava para comprar, nem a possibilidade de que todos dando uma mesma quantia, se poderia comprar mais ou menos coxinhas. Só vivemos e comemos as coxinhas - no caso dos alérgicos, eles apenas sobreviveram.
Talvez quem encheu a mão fossem os que estavam com mais fome, talvez quem encheu a mão fossem aqueles que deram mais por aquelas coxinhas, ou ainda os que apenas viram uma oportunidade e usaram-na.
Talvez quem pegou uma por vez fossem os éticos e por isso não se acharam no direito de maior desfrute pela quantia posta nas coxinhas. Ou apenas não estavam com muita fome.

Pior! Coitado dos que pegaram uma por vez por serem os primeiros, que tem o azar de ditar a lógica.