Não vou explicar o texto, apenas contextualizar. O eu lírico traça por meio de 5 cartas um relacionamento intenso e confuso, um caso sem resolução.
CARTA 1
Nos cruzamos como desconhecidos de próprios e longínquos mundos. E o tempo segue o curso. Eu, a minha órbita.
Cheguei em casa, e teu nome pintado de azul com um número do lado, ainda não tinha aparecido. Não reclamo, eu fiz por onde, te provoquei o fim de semana inteiro; e tu, como sempre, continuou com teu projeto de correspondência ao que foi dado, nunca respondeu mais do que eu perguntei, nunca demonstrou interesse ao ponto de parecer-me interessada. Ora, tu és a calculista de nós dois. Quanto a mim? O provocador.
Não sei o que sentes, nem se sentes, mas sei que pensas se sentes, por isso continua presente. Não há como negar como nossos olhos se procuram e se grudam, como ímãs; apesar de puxar o meu, como uma tentava de tirá-lo do teu foco - sempre em vão - não o culpo por fixar-se na miragem que é o teu.
De noite, o travesseiro e o reboliço que me causa, contorço-me de um lado para um outro - é a minha tônica - imaginado construções futuras de dias perfeitos, junto com as infinitas razões para dar errado, considerando-me como a principal. Sim, eu sei, tenho culpa por nós dois, porém espero que entenda que conversar contigo é pisar em falso, teus olhos palpitam como se procurasse algo que eu não tenho, e nunca terei - e nesse caso a culpa cai no teu colo, já que não me deixas mostrar. Prefere sentir-se distante. E me distancio.
Mais um dia...e o que calculou hoje? Mentiras? Disfarces? Omissão? O mais provável é que estejas alquimiando tudo desta vez, provoca a desordem da forma mais organizada possível, as vezes sei que esqueces e mistura verdades, é inevitável, tua humanidade ainda transparece, mesmo que sem o brilho do erro, mesmo sem tua verdadeira voz. Saiba que a única coisa que me faz em ti é o reflexo que transpõem em teus olhos, pois é único que não pode enxergar. Por isso não feche se ainda goza da minha contada presença.
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CARTA 2
Preciso confessar: Como é difícil te escrever! Uma tortura para o cérebro, um alvo ao coração. És um ser naturalmente difícil, mas pragmatizar tua conduta, é como dar nome as estrelas - estressante e sem um verdadeiro fim. Te escrevo para passar o tempo, como uma busca de saciedade da alma, que é sádica; do ponto de vista literal, é um tiro atrás do outro. Só tu.
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CARTA 3
Vou embora, o ir embora sem duas passagens. Sei que não vai pedir que eu fique, e nem sei se sentirá minha falta. Espero que sinta - confesso - e que sofras...
Espero que tenhas que dar tua generosidade egoísta, que precise comprimir teu ego, espero que doa quando teu olhar baixar, espero que faça transparecer tua humanidade. Hoje me olhaste com marcação, não sabe o que te aguarda - acha que ainda me têm! - amargará a consequência. Sinto por sentir e te escrever rancor. Mas hoje é o que tenho para ti. O inverno parece chegar...Estás preparada? Espero que não, para que pelo menos um vez, estejamos em igualdade, nem que seja por um critério nivelado por baixo.
Sei que não vais me responder, mas sei que ainda pensa...
Eu te amo, para o nosso azar.
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CARTA 4
Hoje descobri tua fragilidade e o mais interessante é que foi justamente quando tentou medir a minha. Nem sempre as coisas são como a gente quer honey. O mundo é um dado viciado, e se a gente não estiver do lado certo, cairemos com a face para baixo. A cada dia fico menos subjetivo e tenho nas palavras em ti, meu reduto. Espero que esteja lendo e que um dia me responda, mesmo que seja na tua contada forma de correspondência ao que foi dado.
Fica bem.
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CARTA 5
Preciso confessar-te que não quero que precises ler estas cartas, especialmente esta - mais pra frente explicarei o porquê.
Hoje tudo foi diferente, o sol estarrecedor, nenhuma nuvem acusando uma possível trégua do calor. Hoje andamos com a jurisprudência de não fazer mais do que o necessário e comum. Mas o comum da vida me consome. Hoje me chamou e me ajudou, foi o ato mais gratificante que eu poderia esperar de ti, és a calculista, já te disse.
Ainda hoje, sei que ficou sem saber quando me viu distraído. Mesmo tendo-te a um palmo, meus olhos, hoje, não te encontraram como antes, e a tua raiva é saber que não precisei controlá-los, foi espontâneo - como todos meus passos.
Demoramos, mas chegamos.
Reforço que não quero que recebas estas cartas. Infelizmente, se receber, saberá o porquê, sempre foi mais esperta que eu. Ou talvez nem pense nisso.
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